Impressionante e autêntica a triste realidade de que o 'remanescente'
precisa estar atuando e ajudando a igreja (não como instituição), mas não
esperando dela fortalecimento e crescimento espiritual, porque disso já temos
instrução bíblica, e os fatos revelam essa realidade:
Miquéias 5:7 - "E estará o resto de Jacó no meio de muitos povos,
como orvalho do Senhor, como chuvisco sobre a erva, que não espera pelo homem,
nem aguarda filhos de homens."
Estar animado com fervor no coração, ardente esperança e próspero
serviço espiritual é fruto de comunhão verdadeira com Deus, e não na
dependência de 'homens'.
Lucimei C. Couto (Vitória/ES)
Código: ZP06060912
Data de publicação: 2006-06-09
Discurso do Papa a representantes ecumênicos dos bispos da Polônia e de
outras religiões
Pronunciado no dia 25 de maio em sua visita à nação de Karol Wojtyla
CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 9 de junho de 2006 (ZENIT.org).-
Publicamos o discurso de Bento XVI aos representantes do Conselho Ecumênico da
Conferência Episcopal Polonesa e de outras religiões, pronunciado no dia 25 de
maio de 2006, em Varsóvia, na Igreja Luterana da Santíssima Trindade.
Queridos irmãos e irmãs em Cristo!
"Graça e paz da parte daquele que é, que era e que há-de vir, da
parte dos sete espíritos que estão diante do seu trono e da parte de Jesus
Cristo, a Testemunha fiel, o Primeiro vencedor da morte e o Soberano dos reis
da terra" (Ap 1, 4-5).
Com as palavras do Livro do Apocalipse, com as quais São João saúda as
sete Igrejas da Ásia, desejo dirigir a minha calorosa saudação a todos os que
estão aqui presentes, antes de tudo aos representantes das Igrejas e das
Comunidades Eclesiais associadas no Conselho Ecuménico Polaco. Agradeço ao
Arcebispo Jeremiasz da Igreja Ortodoxa Autocéfala a saudação e as palavras de
união espiritual que me dirigiu há pouco. Saúdo o Arcebispo Alfons Nossol,
Presidente do Conselho Ecuménico da Conferência Episcopal Polaca.
Une-nos hoje aqui o desejo de nos encontrarmos para, na oração comum,
prestar honra e glória a Nosso Senhor Jesus Cristo: "Àquele que nos ama e
nos purificou dos nossos pecados com o seu sangue, e fez de nós um reino,
sacerdotes para Deus e Seu Pai" (Ap 1, 5-6). Estamos gratos a nosso
Senhor, porque nos reúne, nos concede o seu Espírito e nos permite além do que
ainda nos separa de invocar "Abbà, Pai". Estamos convictos de que Ele
intercede incessantemente em nosso favor, pedindo por nós: "para que eles
cheguem à perfeição da unidade e assim o mundo reconheça que Tu me enviaste e
que amaste a eles como a mim" (Jo 17, 23).
Juntamente convosco agradeço o dom deste encontro de oração comum. Vejo
nele uma das etapas para realizar o firme propósito que fiz no início do meu
pontificado, o de considerar uma prioridade do meu ministério a restituição da
unidade plena e visível entre os cristãos. O meu amado Predecessor, o Servo de
Deus João Paulo II, quando visitou esta igreja da Santíssima Trindade, no ano
de 1991, realçou: "por muito que nos comprometamos pela unidade, ela
permanece sempre um dom do Espírito Santo. Estaremos disponíveis para receber
este dom na medida em que teremos as nossas mentes e os nossos corações abertos
a Ele através da vida cristã e sobretudo através da oração". De facto, não
nos será possível "fazer a unidade" unicamente com as nossas forças.
Como recordei durante o encontro ecumênico do ano passado em Colônia: "Só
a podemos obter como dom do Espírito Santo".
É por isto que as nossas aspirações ecumênicas devem estar permeadas da
oração, do perdão recíproco e da santidade da vida de cada um de nós. Exprimo o
meu regozijo pelo facto de que aqui, na Polônia, o Conselho Ecumênico Polaco e
a Igreja católica romana empreendem numerosas iniciativas neste âmbito.
"Olhai: Ele vem no meio das nuvens! Todos os olhos o verão, até
mesmo os que o trespassaram" (Ap 1, 7). As palavras do Apocalipse recordam
que todos estamos a caminho rumo ao encontro definitivo com Cristo, quando Ele
revelará diante de nós o sentido da história humana, cujo centro é a cruz do
seu sacrifício salvífico. Como comunidade de discípulos, estamos dirigidos para
aquele encontro com a esperança e a confiança que será para nós o dia da
salvação, o dia do cumprimento de tudo aquilo que desejamos, graças à nossa
disponibilidade a deixar-nos guiar pela caridade recíproca que o seu Espírito
suscita em nós. Edifiquemos esta confiança não sobre os nossos merecimentos,
mas sobre a oração na qual Cristo revela o sentido da sua vinda à terra e da
sua morte redentora: "Pai, quero que onde Eu estiver estejam também comigo
aqueles que Tu me confiaste, para que contemplem a minha glória, a glória que
me deste, por me teres amado antes da criação do mundo" (Jo 17, 24).
A caminho rumo ao encontro com Cristo que "vem sobre as
nuvens", com a nossa vida anunciamos a sua morte, proclamamos a sua ressurreição,
na expectativa da sua vinda. Sentimos o peso da responsabilidade que tudo isto
exige; de facto, a mensagem de Cristo deve chegar a cada homem sobre a terra,
graças ao compromisso daqueles que crêem n'Ele e que são chamados a testemunhar
que Ele é verdadeiramente enviado pelo Pai (cf. Jo 17, 23). Portanto, é preciso
que anunciemos o Evangelho, que sejamos movidos pela aspiração a cultivar
relacionamentos recíprocos de caridade sincera, de modo que, à luz delas, todos
saibam que o Pai enviou o seu Filho e ama a Igreja e cada um de nós, assim como
amou a Ele (cf. Jo 17, 23). Tarefa dos discípulos de Cristo, tarefa de cada um
de nós, é portanto tender para esta unidade, de modo a tornar-nos, como
cristãos, sinal visível da sua mensagem salvífica, dirigida a cada ser humano.
Permiti que eu mencione mais uma vez o encontro ecuménico realizado
nesta igreja com a participação do vosso grande Concidadão João Paulo II e a
sua intervenção, na qual ele apresentou do seguinte modo os esforços destinados
à plena unidade dos cristãos: "o desafio que se apresenta é superar pouco
a pouco os obstáculos (...) e crescer juntos naquela unidade de Cristo que é
uma só, aquela unidade com a qual dotou a Igreja desde o início. A seriedade da
tarefa proíbe qualquer precipitação ou impaciência, mas o dever de responder à
vontade de Cristo exige que permaneçamos firmes no caminho rumo à paz e à
unidade entre todos os cristãos. Sabemos bem que não somos nós que curaremos as
feridas da divisão e que restabeleceremos a unidade; somos simples instrumentos
que Deus poderá utilizar. A unidade entre os cristãos será dom de Deus, no seu
tempo de graça. Tendamos humildemente para aquele dia, crescendo no amor, no
perdão e na confiança recíprocos".
A partir daquele encontro muito mudou. Deus concedeu-nos fazer muitos
passos rumo à compreensão e à aproximação recíprocas. Permiti que eu recorde
alguns acontecimentos ecuménicos, que naquele tempo tiveram lugar no mundo: a
publicação da Encíclica Ut unum sint; os acordos cristológicos com as Igrejas
pré-calcedónias; a subscrição em Ausburgo da "Declaração Conjunta sobre a
doutrina da justificação"; o encontro por ocasião do Grande Jubileu do Ano
2000 e a memória ecuménica das testemunhas da fé do século XX; a retomada do
diálogo católico-ortodoxo a nível mundial, o funeral de João Paulo II com a
participação de quase todas as Igrejas e Comunidades eclesiais. Estou ao
corrente do facto de que também aqui, na Polónia, esta aspiração fraterna pela
unidade pode orgulhar-se dos sucessos concretos. Neste momento, gostaria de
mencionar: a assinatura, no ano 2000, feita também neste templo pela Igreja
católica romana e pelas Igrejas associadas no Conselho Ecuménico Polaco, da
declaração do reconhecimento recíproco da validez do baptismo; a instituição da
Comissão para o Diálogo, da Conferência Episcopal Polaca e do Conselho
Ecuménico Polaco, à qual pertencem os Bispos católicos e os Chefes de outras
Igrejas; a instituição das comissões bilaterais para o diálogo teológico entre
católicos e ortodoxos, luteranos, membros da Igreja nacional polaca, mariavitas
e adventistas; a publicação da
tradução ecumênica do Novo Testamento e do Livro dos Salmos; a iniciativa
chamada "Obra natalícia de ajuda às Crianças", na qual colaboram as
organizações caritativas das Igrejas: católica, ortodoxa e evangélica.
Verificamos muitos progressos no campo do ecumenismo e contudo
aguardamos sempre algo mais. Concedei que eu faça observar duas questões,
talvez mais pormenorizadamente. A primeira refere-se ao serviço caritativo das
Igrejas. São numerosos os irmãos que aguardam de nós o dom do amor, da
confiança, do testemunho, de uma ajuda espiritual e material concreta. Fiz
referência a este problema na minha primeira Encíclica Deus caritas est. Nela
escrevi: "O amor do próximo, radicado no amor de Deus, é um dever antes de
mais para cada um dos fiéis, mas é-o também para a comunidade eclesial inteira,
e isto a todos os seus níveis: desde a comunidade local passando pela Igreja
particular até à Igreja universal na sua globalidade.
A Igreja também enquanto comunidade deve praticar o amor" (n. 20).
Não podemos esquecer a ideia fundamental que desde o início constituiu o
fundamento muito forte da unidade dos discípulos: "no seio da comunidade
dos crentes não deve haver uma forma de pobreza tal que sejam negados a alguém
os bens necessários para uma vida condigna" (ibid.). Esta ideia é sempre
actual, mesmo se ao longo dos séculos tenham mudado as formas de ajuda
fraterna; aceitar os desafios caritativos contemporâneos depende em grande medida
da nossa colaboração recíproca. Alegro-me porque este problema tem um grande
eco no mundo sob forma de numerosas iniciativas ecuménicas. Vejo com apreço que
na comunidade da Igreja Católica e nas outras Igrejas e Comunidades eclesiais
se difundiram novas formas diversas de actividades caritativas e também
surgiram antigas com impulso renovado. São formas que com frequência unem a
evangelização com as obras de caridade (cf. ibid., 30).
Parece que, apesar de todas as diferenças que devem ser superadas no
âmbito do diálogo interconfessional, seja legítimo atribuir o compromisso
caritativo à comunidade ecuménica dos discípulos de Cristo na busca de uma
plena unidade. Todos nos podemos inserir na colaboração a favor dos
necessitados, servindo-se desta rede de relações recíprocas, fruto do diálogo
entre nós e da acção comum. No espírito do mandamento evangélico devemos
assumir esta atenciosa solicitude em relação aos irmãos que se encontram em
necessidade, sejam eles quem for. A este propósito na minha Encíclica escrevi
que: "para o progresso rumo a um mundo melhor, é necessária a voz comum
dos cristãos, o seu empenho em "fazer triunfar o respeito pelos direitos e
necessidades de todos, especialmente dos pobres, humilhados e
desprotegidos"" (n. 30b). A quantos participam no nosso encontro
desejo hoje que a prática da caritas fraterna nos aproxime cada vez mais e
torne mais credível o nosso testemunho em favor de Cristo perante o mundo.
A segunda questão à qual desejo fazer referência, diz respeito à vida
conjugal e à familiar. Sabemos que entre as comunidades cristãs, chamadas a
testemunhar o amor, a família ocupa um lugar particular. No mundo de hoje, no
qual se estão a multiplicar relações internacionais e interculturais, cada vez
com mais frequência se decidem a fundar uma família jovens que são provenientes
de diversas tradições, de diversas religiões, de diversas confissões cristãs.
Várias vezes, para os próprios jovens e para os seus familiares, é uma decisão
difícil que inclui vários perigos relativos quer à perseverança na fé quer à
construção futura da ordem familiar, assim como à criação de um clima de
unidade da família e de condições oportunas para o crescimento espiritual dos
filhos.
Contudo, precisamente graças à difusão numa escala mais ampla do diálogo
ecuménico, a decisão pode originar a formação de um laboratório prático de
unidade. Por isso são necessárias as benevolências recíprocas, a compreensão e
a maturidade na fé de ambas as partes, assim como das comunidades das quais
provêm. Desejo expressar o meu apreço pela Comissão Bilateral do Conselho para
as Questões do Ecumenismo da Conferência Episcopal Polaca e do Conselho
Ecuménico Polaco que iniciaram a elaboração de um documento no qual é
apresentada a comum doutrina cristã sobre o matrimónio e sobre a família e são
estabelecidos princípios, aceitáveis para todos, para contrair matrimónios
interconfessionais, indicando um programa comum de solicitude pastoral para
esses matrimónios. Desejo a todos que nesta delicada questão, seja incrementada
a confiança recíproca entre as Igrejas e a colaboração que respeita plenamente
os direitos e a responsabilidade dos cônjuges para a formação na fé da própria
família e para a educação dos filhos.
"Eu dei-lhes a conhecer quem Tu és e continuarei a dar-Te a
conhecer, a fim de que o amor que me tiveste esteja neles e Eu esteja neles
também" (Jo 17, 26). Irmãos e irmãs, pondo toda a nossa confiança em
Cristo, que nos faz conhecer o seu nome, caminhamos todos os dias rumo à
plenitude da reconciliação fraterna. A sua oração faça com que a comunidade dos
seus discípulos na terra, no seu mistério e na sua unidade visível, se torne
cada vez mais uma comunidade de amor na qual se reflecte a unidade do Pai, do
Filho e do Espírito Santo.
[Tradução distribuída pela Santa Sé
© Copyright 2006 - Libreria Editrice Vaticana
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